Autobiografia mostra o que a vida ensinou ao maestro João Carlos Martins

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Pianista lança livro em que utiliza o alfabeto para contar episódios marcantes de sua trajetória de baques, glórias e superação

Livros e documentários nacionais e estrangeiros, filme, peças de teatro e enredo de escola de samba. O pianista e maestro João Carlos Martins já foi tema de diversas produções e quando o convidaram para escrever suas memórias, ele recusou veementemente. “Fiquei um ano dizendo não porque não achava um viés para o livro”, conta. Porém, quando o editor da Editora Sextante sugeriu que ele escolhesse palavras com todas as iniciais do alfabeto e mostrasse o significado delas em sua vida, o pianista gostou da ideia. Em 15 dias, “João de A a Z”, lançado recentemente em MG, estava pronto.

Claro que as 208 páginas da obra não dão conta de cobrir a vida e a obra de um dos artistas mais geniais já nascidos neste país, mas serve como uma espécie de diário em que os capítulos têm sempre como desfecho uma história engraçada. João Carlos Martins já deixou plateias boquiabertas pelos quatro cantos do mundo e, em 1960, com apenas 20 anos, se apresentou no Carnegie Hall, em Nova York, um dos grandes templos da música. Uma década depois, após de um concerto no mesmo local, ouviu de Salvador Dalí: “Passe 20 anos dizendo às pessoas que você é o maior intérprete de Bach no mundo. Eu digo que sou o maior pintor do mundo há 20 anos e já há quem acredite”.

A letra “b” é dedicada a Bach – de quem já gravou toda a obra. Johann Sebastian Bach (1685-1750) é a maior influência do maestro. Aos 8 anos, motivado pelo pai, um sujeito fascinado por piano, mas um acidente de trabalho decepou-lhe o polegar, João Carlos começou a se dedicar ao instrumento. Seis meses depois, ganhou um concurso nacional tocando peças do compositor. “Minha mão se adaptava muito bem ao repertório dele”, comenta o artista que é reconhecido mundialmente como um dos maiores intérpretes da obra do alemão. “No século 20, sei que estou entre os cinco melhores”, reconhece.

A trajetória do maestro é marcada por frustrações e reviravoltas triunfantes. Ao longo de seus 79 anos, João conviveu com problemas motores e neurológicos causados por uma queda, em 1965, e um golpe na cabeça ao sofrer um assalto na Bulgária, 30 anos depois. Isso limitou severamente os movimentos das mãos, fazendo com que ele interrompesse a carreira em alguns períodos, inclusive no seu auge, aos 26 anos.

Os avanços da medicina e 24 cirurgias fizeram com que ele recuperasse parcialmente a coordenação motora. “Só podia tocar com dois polegares”, lembra o músico. Hoje, diz que se sente como uma criança por conseguir colocar todos os dedos no piano. “Está sendo uma experiência emocionante”, comenta. No livro, a letra “n” remete à neurologia. “Atrevo-me a dizer que virei um instrumento da medicina. Sou um teimoso”, diz em um trecho da obra.

Com a impossibilidade de tocar com toda plenitude o instrumento que um dia recebeu toques tão rápidos quanto o acender da luz, o pianista se dedicou à regência – atualmente ele conduz a Bachiana Filarmônica SESI-SP. Hoje, um robozinho desenvolvido na Dinamarca chamado carinhosamente de “Joquinha” o ajuda a virar as páginas da partitura. “Ele faz isso sem que eu perca a emoção quando estou regendo”, explica.

João Carlos Martins crê na tecnologia para superar suas limitações. Mas não só para isso: o maestro usa sua página no Instagram, que tem 123 mil seguidores e é administrada por sua mulher, dada sua inabilidade com o aplicativo, para revelar às pessoas o que ele era capaz de fazer quando tinha dedos livres de qualquer entrave. “Quero mostrar como eu tocava piano, e realmente eu tocava um bocado. De vez em quando até sonho que estou dando um grande concerto”, afirma o pianista.

Celebração

Para comemorar seus 80 anos, em junho de 2020, João Carlos Martins fará o concerto “From Bach to Brazil” no Carnegie Hall, em Nova York. O repertório já está escolhido e terá “Brandeburg”, de Bach, Villa-Lobos e três peças de Tom Jobim cantadas por Gal Costa.

Fonte: O Tempo

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1 comentário

  1. Idoneia Gonçalves de Carvalho em

    Amo o Maestro. É uma pessoa maravilhosa, iluminada. Daria tudo na vida para assistir seu show no Carnegie Hall e comemorar os seus 80 anos bemvividos.

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