Maestro visita alunos da “futura Orquestra Filarmônica” em casa em Joinville/SC

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Desde o início de julho, o maestro Sérgio Ogawa tem realizado o trabalho de formar os músicos da futura Orquestra de Joinville de um jeito mais “caseiro”: com a pandemia do novo coronavírus, as aulas de música do Core Music Institute não podem ocorrer presencialmente. Se o ensino remoto e as vídeo conferências já são um desafio em qualquer modalidade de educação e trabalho, para crianças que estão no início do aprendizado de instrumentos musicais, a distância é um obstáculo ainda maior.

Antes da pandemia, os 200 alunos do programa de formação de músicos — completamente formado por bolsistas, entre crianças e adolescentes de quatro a 17 anos  — tinham pelo menos uma hora de 40 minutos de aulas presenciais e, para os mais avançados, quatro horas de ensaios por semana. Agora, levaram os instrumentos da escola para casa e encontram, há três meses, com o professor apenas do outro lado da tela para as aulas de canto, teoria musical e prática.

Por isso, o maestro Ogawa decidiu encontrar pessoalmente com os alunos de famílias onde não há pessoas do grupo de risco, tomando cuidado com as medidas de prevenção, para incentivar as crianças e adolescentes a manterem a rotina de estudos.

— O objetivo desta visita foi justamente para fortalecer esses laços de confiança nos alunos e nas famílias, transmitir esperança e coragem para que eles acreditem nesse futuro grandioso que a gente espera proporcionar a todos eles. Foi poder dizer pessoalmente para que jamais desanimem, que mantenham a disciplina, a dedicação e, ao mesmo tempo a alegria, a satisfação de fazer música, que é algo tão extraordinário, tanto para quem toca quanto para quem ouve — explica o maestro, que é também diretor artístico do Coree Music Institute.

Em 4 de julho, Ogawa foi ao bairro Glória para visitar a casa dos alunos Gabriel e Pedro Tamião Balieiro. Vinda de São Paulo, a família contou que já enfrentou dificuldades financeiras em Joinville e já pensaram em voltar para o Sudeste, mas não o fizeram para que os filhos continuem a formação em música no instituto.

— Eles enxergaram uma oportunidade de carreira para os filhos — conta o maestro.

O caçula, Pedro, de 12 anos, fazia aulas de violino quando a pandemia começou e tem se esforçado bastante para seguir o aprendizado. Mas estava enfrentando muita dificuldade porque, além de estudar violino, precisava fazer a gravação dos ensaios e editar com precisão, o que é  difícil até para os músicos profissionais.

Preocupado com isso e conversando com o professor dele, Ogawa sugeriu que o garoto trocasse para as aulas de viola, que é um violino um pouco maior e que de acordo com perfil e potencial do aluno, favoreceriam bastante  performance,  como um upgrade nos estudos.

— Ele se sentiu estimulado com a oportunidade de crescer ainda mais, tanto que emprestamos a viola e ele já saiu tocando. Tenho absoluta certeza de que ele vai avançar de forma extraordinária — completa o maestro.

Futuros músicos da Orquestra de Joinville

Ogawa lembra ainda do desafio que fez ao mais velho, Gabriel, de 14 anos, quando em 2017, ainda na fila para o processo seletivo, conversava com alguns candidatos e, ao falar com Gabriel, que já tocava clarinete, disse que ele tinha cara de oboísta.

— Alguns professores ao meu lado falaram que o garoto talvez nem devesse saber o que era tocar oboé, ao que prontamente ele respondeu que não só sabia, mas que era seu sonho tocar este instrumento, que o som era maravilhoso, mas que não tinha dinheiro para comprar — recorda.

Maestro e candidato fizeram um acordo: se ele passasse na seletiva, teria que começar do zero, aprendendo a tocar uma flauta doce — que custa R$ 50. Se conseguisse se tornar o melhor aluno de flauta doce, o instituto compraria um oboé profissional para ele, de alto nível, e o maestro Ogawa chamaria um professor de orquestra sinfônica profissional para dar aula para Gabriel.

— E foi o que aconteceu. Em um ano ele se tornou de fato o melhor aluno de flauta e eu cumpri minha promessa trazendo um professor da Orquestra Sinfônica do Paraná e comprando um oboé francês, de melhor qualidade — relembra Ogawa, orgulhoso e satisfeito

Para ele, há a convicção de que Gabriel será  um dos alunos que vai se aperfeiçoar no exterior e retornará ao Brasil como professor da Academia de Música do Coree, para ajudar a formar as novas gerações e integrar a orquestra filarmônica profissional. A proposta do programa é que uma Orquestra Jovem seja formada até 2025, que dará origem, depois, à Orquestra Filarmônica de Joinville.

— Estaremos com esses jovens no mínimo até 2030, quando vai estrear a orquestra profissional e essa época de infância e juventude é crucial para fortalecermos as raízes dessa frondosa árvore que vai dar muitos frutos — finaliza.

Fonte: NSC Total

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