Orquestra de Rua do Rio de Janeiro/RJ lança campanha de financiamento coletivo para intercâmbio cultural na Alemanha

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Grupo com integrantes de comunidades da Zona Norte e do Centro do Rio foi convidado para estudar música clássica no estrangeiro

 O passaporte já está na mão. O que eles vão levar na mala? Sonhos, muitos sonhos. O destino é a Alemanha, terra de Beethoven, de Bach, da Filarmônica de Berlim. Os olhos de quatro membros da Orquestra de Rua, todos de comunidades da Zona Norte e do Centro do Rio de Janeiro/RJ, brilham quando eles contam que foram convidados para um intercâmbio cultural. A experiência, prevista para julho, terá a duração de duas semanas e passará pelas cidades de Colônia e Essen.

— Na hora em que soube do convite, fiquei em choque, chorei à beça. Tenho vontade de ir para a Alemanha desde que comecei a estudar música clássica, aos 14 anos, num projeto social no Morro dos Macacos, onde moro — conta Jéssica D’Ornellas, de 22 anos, que toca viola.

A ideia do intercâmbio partiu da produtora cultural carioca Roberta Lacerda, radicada na Alemanha, onde fez um mestrado em Mídia. Ao ver na internet um vídeo da Orquestra de Rua tocando Música Popular Brasileira no metrô com instrumentos eruditos, ela sentiu vontade de ajudá-los a desbravar novos trilhos.

— Sou de classe média, tive a chance de estudar aqui na Alemanha, por que esses jovens carentes não poderiam? É importante dar oportunidade a artistas brasileiros que estão na batalha — destaca Roberta.

Os jovens conhecerão universidades de música da região, se apresentarão para alunos, ensaiarão com grupos de música de câmara locais e tocarão com a orquestra alemã Ensemble Unterwegs, que deverá vir ao Brasil no ano que vem.

— Vamos aprender música alemã e ensinar música brasileira. Também quero muito tocar para um professor alemão, para ele me dar instruções. A música não tem idioma, é universal — afirma Glaucia Maciel, de 20 anos, moradora do Morro da Providência que aprendeu a tocar violino aos 14, num projeto social.

Para pagar os custos da viagem, o grupo fez uma campanha de financiamento coletivo na internet, que, até agora, arrecadou pouco mais de um quinto da meta de R$ 25 mil. As doações poderão ser feitas até amanhã através do link vaka.me/814201

A Orquestra de Rua surgiu em junho de 2017, meio por acaso, quando os jovens saíam de uma apresentação na Gávea, na Zona Sul. Sem dinheiro para comprar a pizza que desejavam, pegaram os instrumentos e tocaram ali mesmo, na via principal do bairro. Arrecadaram o que precisavam, mas a pressa de voltar para casa os fez desistir do lanche. A semente, no entanto, já estava plantada.

— Não imaginávamos que uma pizza nos levaria tão longe. Estou muito feliz. Agora, o céu é o limite — diz Lucas Freitas, de 22 anos, que aprendeu a tocar violoncelo no mesmo projeto social onde Jéssica estudou, no Morro dos Macacos.

Desde então, os jovens, que fazem faculdade de Música (parte na UniRio, parte na UFRJ), vêm colhendo frutos da dedicação — eles chegam a ensaiar quatro horas por dia, com instrumentos emprestados pelos projetos sociais que frequentavam. Foram convidados a tocar num congresso sobre direitos humanos e nos 28 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente em Porto Velho, Rondônia, e integraram a programação de uma feira no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade em Brasília. Também participaram, como músicos contratados, da temporada passada do “The Voice Kids”, da TV Globo. Saíram até nas páginas do jornal “The New York Times”.

— O repórter nos achou no Instagram e quis contar a nossa história. Ficou uma semana nos acompanhando, foi à nossa faculdade, à nossa casa. Nós nos sentimos o máximo, né? Porque é um jornal com projeção no mundo inteiro — frisa Juliane Nascimento, de 22 anos, moradora da Mangueira que toca violino e é cria do projeto social Cartola.

Mas a maior conquista até agora, eles contam, foi ter tocado, este mês, para os jovens internos do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase), na Ilha do Governador.

— De alguma forma, eles podem se inspirar na gente. Viemos do mesmo local que eles, temos a mesma situação financeira. A diferença é que tivemos a oportunidade de aprender a tocar um instrumento. Conseguimos mostrar que eles podem se reinserir na sociedade — afirma Glaucia.

Fonte: O Globo

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