Silencia a batuta mágica de Benito Juarez

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Amigos, músicos, fãs, lamentam a morte do maestro Benito Juarez, ontem, aos 86 anos

Que o maestro Benito Juarez estava com a saúde debilitada era do conhecimento da maioria, mas sua morte, na manhã de ontem, em São Paulo, causou profunda consternação e tristeza entre amigos, familiares, músicos, autoridades e pessoas ligadas à arte e à cultura. Entre todos, uma unanimidade: o papel relevante do maestro Benito Juarez em colocar a Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas (OSMC) no cenário musical brasileiro e em aproximar o grupo do grande público, contribuindo para que ela se tornasse, de fato, um patrimônio histórico e cultural do povo campineiros.

Depois de fundar o Coral da Universidade de São Paulo (Coralusp), em 1971 Benito Juarez foi convidado por Zeferino Vaz, fundador e reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para criar o Coral da Unicamp. Além do coral, participou da criação do Instituto de Artes (IA) e fundou o Curso de Música Popular, o primeiro no Brasil e único oferecido em uma universidade pública do Estado. Foi chefe do IA do início dos anos 80 até 1996.

Parceria com a música popular brasileira foi uma das marcas do maestro Benito Juarez, como nesse histórico e inesquecível encontro com o cantor e compositor Milton Nascimento, em agosto de 95, em apresentação em Campinas

Todos que conviveram com ele, pessoalmente, ou por meio de seu trabalho à frente do IA e da OSMC, lamentam o que chamam de “perda irreparável”.

“Tenho muito a dizer sobre o Benito, convivi muito com ele, desde que cheguei a Campinas em 1982 para estudar. Ele era professor do Departamento de Música, fui aluno e depois colega como docente. Ele tem uma história muito interessante. Chegou em 1971 a convite do Zeferino Vaz, criou o Coral da Unicamp, o IA que dirigiu por anos. Ele sempre foi um pioneiro.

Na Unicamp criou ainda o primeiro curso de música popular do Brasil”, lembra o secretário de Cultura, Ney Carrasco. “Em 1985, o então prefeito Lauro Péricles Gonçalves, o chamou para iniciar o processo de profissionalização da Sinfônica. A Orquestra já existia, mas de forma amadora. Ele fez a transição da Orquestra de local para nacional. A Sinfônica é até hoje uma das mais importantes do País”, afirma Carrasco, citando que Campinas foi a primeira cidade não capital a ter sua orquestra profissional. Carrasco destaca ainda o impulso de Benito de aproximar a orquestra do grande público.

“A Sinfônica foi a primeira a tocar música popular no Brasil. Ele foi pioneiro em misturar música popular com erudita e levar a Orquestra para bairros da periferia. Na época era possível perguntar a qualquer pessoa: “Conhece a Orquestra? Sim. Já ouviu a Orquestra? Sim. Sabe quem é o regente da Orquestra? Sim, Benito Juarez”. Ele criou essa ligação da população com a Sinfônica, coisa que nunca se perdeu. O campineiro vê a Orquestra como patrimônio dele.”

“Lamentamos profundamente a perda não apenas do artista e do docente, mas sobretudo do cidadão que soube traduzir em sua obra o espírito de nosso tempo e a necessidade de levar a cultura para todas as camadas da sociedade”, afirma o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel. “Benito foi uma personalidade fundamental para o desenvolvimento das artes e da cultura de Campinas, privilegiando a sua difusão para a população em geral, pioneiro nesse tipo de atuação, e que certamente contribuiu para a aproximação das pessoas com um patrimônio da cidade, que é a Orquestra Municipal”, acrescenta.

O pró-reitor de Extensão e Cultura da Unicamp, Fernando Hashimoto, relembra o convívio com Benito. “Toquei como músico da Sinfônica de Campinas por muitos anos com o maestro Benito Juarez, e também convivi com ele na Unicamp. Posso destacar duas marcas importantes de sua trajetória: o compromisso na execução e gravação do repertório nacional, e seu trabalho de aproximação da música dita popular com a erudita. Para Campinas sua contribuição foi enorme”, coloca.

Em um tempo onde não tínhamos a OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) moderna, reestruturada, ou uma Filarmônica de Minas Gerais, a OSMC sempre foi a orquestra mais estável do país. Ele expandiu o acesso da população aos concertos da Orquestra Sinfônica como nunca antes. Na Unicamp, ele foi uma das peças chaves para a fundação do Instituto de Artes e também para a criação do Curso de Música Popular da Unicamp”, aponta Hashimoto.

“Lamento profundamente a morte do maestro Benito Juarez. Não tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente. Tentei falar com ele várias vezes via familiares, mas ele já estava com a saúde debilitada e não foi possível esse encontro. Mas, no ano passado, nas comemorações pelos 90 anos da Sinfônica, tive a chance de entregar a seu filho mais velho, André Juarez, a medalha comemorativa. Foi num concerto especial pelos 90 anos, realizado na Concha Acústica. A passagem dele pela Sinfônica foi muito importante. Ele deixou um legado inestimável a toda uma geração de campineiros, contribuiu de maneira decisiva para a prestígio da Orquestra em âmbito nacional”, destaca o maestro titular da OSMC, Victor Hugo Toro.

“Não toquei na Sinfônica em o Benito Juarez como contratada, apenas fazia cachês. Mas era impressionante a energia eletrizante dele na regência. Ele era uma pessoa que queria a música, se alimentava de arte, alguém que enxergava à frente, via as muitas possibilidades em levar a música onde o povo estava”, aponta a primeiro violoncelo da OSMC, Lara Ziggiatti Monteiro, lembrando a convivência intensa de sua mãe, Léa Ziggiatti Monteiro com o maestro, desde que ele chegou a Campinas. “Ela sempre teve uma imensa admiração por ele. Os dois idealistas fizeram muitas coisas juntos”, recorda. (Com Jornal da Unicamp)

Instituições citam importância de Benito para a cultura

Morre o maestro Benito Juarez

“Benito Juarez marcou de maneira especial a cultura campineira elevando a então amadora Sinfônica a um patamar profissional. Com ele, nossa orquestra projetou-se nacionalmente, salientando também o nome de Campinas. Priorizou a obra de Carlos Gomes montando, com enorme qualidade, as obras A Noite do Castelo (primeira ópera do Tonico de Campinas) e Colombo. Regeu a Sinfônica sempre de modo brilhante e entusiástico. Deu oportunidade aos cantores líricos de Campinas de cantarem sob sua batuta. Será sempre lembrado com carinho pela cidade, a que muito amava e era por ela amado. Merece digna homenagem como ter seu nome em algum local de Cultura ou rua da cidade”, afirma o cantor lírico Alcides Acosta, presidente da Associação Brasileira Carlos Gomes de Artistas Líricos (Abal) e do Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA). Acosta lembra que cantou sob sua regência a ópera A Noite do Castelo, de Calor Gomes, em um concerto no teatro de Arena do Centro de Convivência Cultural. “Benito foi também personagem icônico da Unicamp, constando entre os primeiros professores do curso de Música e Regência da universidade, inclusive criando a Orquestra Sinfônica da Unicamp, a qual foi o primeiro a reger”, reforçou.

“O maestro Benito Juarez foi o maior expoente no século 20 na Orquestra Sinfônica de Campinas. Seu maior mérito foi a projeção nacional que deu à Sinfônica, além de levar a Orquestra para a periferia. Graças a ele o povo teve a oportunidade de conhecer e admirar a música clássica, e o retorno era extraordinário. Essa visibilidade foi muito importante. O maestro levou a música de alto repertório para os bairros e fez a integração entre o erudito e o popular”, citou o presidente da Academia Campinense de Letras (ACL), Jorge Alves de Lima.

“Fiquei muito triste com a notícia, é uma perda irreparável. Sabia que estava com problemas de saúde, mas não imaginava que fosse morrer. O conhecia dos concertos, mas ele foi muito importante e me ajudou bastante nos anos 80, quando assumi a direção do Instituto de Artes, Comunicação e Turismo da PUC-Campinas. Queria dar um gás no coral da PUC e o procurei para que me indicasse uma pessoa competente para essa tarefa. Me recebeu muito bem e me indicou uma excelente profissional, Claudia Arcos, que atualmente integra o Coral do Theatro Municipal de São Paulo”, conta a cantora lírica e acadêmica Regina Márcia Moura Tavares. “Sempre admirei o que ele fazia em Campinas. Uma das principais foi mostrar que a música, seja ela a dita erudita, ou de alto repertório, ou popular, se for de boa qualidade sensibiliza todas as camadas da sociedade e deve ser difundida entre os vários espaços da sociedade. E ninguém fez isso tão bem como ele. Valorizo pessoas que têm sensibilidade, são criativas e tem a ousadia de criar algo novo. E isso Benito tinha de sobra.”

Fonte: Correio

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