João Carlos Martins chega aos 80 anos como maestro da arte da superação

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Apontar qual foi o setor mais prejudicado pela pandemia é bem complicado. Mas para quem já se submeteu a 24 cirurgias, mesmo quando todos os dedos já não respondiam com facilidade àquilo que a cabeça e o coração tocavam, 2020 só foi mais uma prova que se curvar ao tempo nunca foi uma alternativa. Conhecido pelos dedilhados certeiros ao piano e contrariando todos os prognósticos, o maestro e pianista João Carlos Martins chega a 2021 com ainda mais fé na música e no amanhã.

Se o ano passado foi um período para descobrir e mergulhar no mundo das lives, em 2021 o maestro promete mais. Para celebrar oito décadas de vida e seis de carreira, além de sua trajetória de superação, disciplina e reconhecimento, Martins será tema de exposição, em São Paulo, na Fiesp, e também de um concerto no icônico Carnegie Hall, em Nova York, previsto para outubro. “As pessoas podem não achar, mas aos 80 anos eu ainda tenho muitos anseios. Você pode encarar a idade como início ou fim, eu prefiro encarar como início”, brinca o maestro, que garante ter planos pelo menos para os próximos 20 anos.

E motivação não falta. Desde 1965, quando sofreu um acidente jogando futebol nos Estados Unidos e teve uma perfuração na altura do cotovelo direito, o maestro passou a escrever, ou melhor, tocar, uma história de superação e a ser aclamado mundialmente como um dos maiores intérpretes da obra do compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750), mesmo com três dedos atrofiados. Depois de 30 anos, quando tudo parecia estar nos eixos, uma contratura aumentou ainda mais a limitação após um assalto na Bulgária. Dez anos depois, sobrecarregado, o maestro acabou perdendo de vez todos os movimentos que tinha.

“Não vejo como uma história de superação. Eu comecei a acreditar numa coisa chamada ‘esperança’. Eu nasci pianista e vou morrer pianista. Podem chamar isso de teimosia também, mas quando você pode ver uma perspectiva de uma adversidade, em vez de saltar para um abismo, você pode aprender a voar mais alto”, acredita o músico, que dois dias após o diagnóstico da perda dos movimentos se matriculou em uma faculdade para fazer aulas de regência.

2020

Para o maestro, o último ano foi um flashback: “Quando você tem um vale, você precisa ter determinação, e não saltar para um abismo. A minha vida sempre foi baseada na disciplina de um atleta”, ressaltou o artista, que, em 2020, descobriu o mundo das mídias digitais. Só no ano passado, ele fez mais de 30 lives, alcançando mais de 1,8 milhão de visualizações.

“São números fantásticos quando a gente fala de música clássica, é mais do que se faz em um teatro. A pandemia está nos ensinando como cuidar da alma, e você consegue mudar a vida de toda uma comunidade por meio da música”, garante o maestro, que durante a entrevista mostrou seu inseparável companheiro de quarentena. Aliás, foi em 2020 que João Carlos Martins viu outro milagre. Com o auxílio de uma luva biônica, desenvolvida pelo designer industrial Ubiratan Costa, pôde voltar a tocar com os dez dedos após 22 anos de saudade.

“Antes, eu chegava a fazer 21 notas por segundo. Agora, faço a cada 21 segundos uma nota. Se demorar um ano para cada música, aprendo mais 20 até meus 100 anos”, gargalha Martins. “Assim eu levo a vida, sempre acreditando na esperança de que você pode alcançar seu objetivo. Essa é a graça”, observa o maestro, que já tem planos para o piano para a apresentação em Nova York no segundo semestre. Vídeos compartilhados por ele nas redes sociais já adiantam o que está por vir.

“Estou me sentindo com 8 anos, estudando mais de sete horas por dia. Estou reeducando o meu cérebro, na verdade. Acho que posso até recuperar a velocidade no futuro. Pode demorar, porque é uma musculatura que nunca usou esse terceiro, o quarto e o quinto dedo, mas o objetivo é aprimorar. Nasci pianista e quero morrer pianista”, avalia o maestro, que dá mais uma dica da apresentação. “Estamos aprendendo que a vida é feita de incertezas, fazemos nossos planos e esperamos, mas acredito que será em formato híbrido, gostei disso e acho que veio para ficar”, completa o maestro.

Música boa é música popular

Apesar de já ter estrelado grandes concertos pelo mundo, o maestro tem mais uma missão para 2021: democratizar a música clássica. Desde o ano passado, o músico tem se unido a grandes nomes populares, como Paula Fernandes, Thiaguinho e Chitãozinho e Xororó.

“Não existe essa distinção, tudo vem da música clássica, e nesses meus 80 anos tenho uma missão ainda, quero realizar o sonho de (Heitor) Villa-Lobos, que era fechar o Brasil em forma de coração através da música. Eu quero percorrer as fronteiras do nosso país mostrando a força da música”, explica.

Fonte: O Tempo

 

 

 

 

 

 

 

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