Orquestra Filarmônica celebra cinco anos da Sala Minas Gerais com Mahler

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Obra “Segunda Sinfonia: Ressurreição”, do compositor de origem judaica, possui a partitura mais cara da história

Era comum vê-lo nos cafés de Viena remexendo com um charuto o conteúdo fervente de suas xícaras. Os modos excêntricos do compositor Gustav Mahler (1860-1911) chamavam atenção tanto quanto sua atribulada vida amorosa.

Pouco antes de o matrimônio com Alma Schindler causar escândalo, dada a diferença de idade – ela era 20 anos mais nova do que ele –, Mahler se envolveu com Marion von Weber, que era casada, e tentou convencê-la a fugir com ele para outro país.

Mas Marion continuou com o marido. Deprimido, Mahler interrompeu a sinfonia que vinha escrevendo. Ele chegou a mostrar uma de suas passagens a Hans von Bülow, diretor da Filarmônica de Berlim. A reação não poderia ter sido pior. “Se isso é música, eu não entendo de música”, disse Bülow.

A obra, interrompida com o fim do romance com Marion e desprezada pelo diretor, foi concluída depois de seis anos. Em 2016, a partitura da peça bateu o recorde de nove sinfonias de Mozart e se tornou a mais cara da história, tendo sido arrematada por US$ 5,6 milhões.

A hoje consagrada “Segunda Sinfonia: Ressurreição” será apresentada nesta quinta (13) e na sexta-feira (14) pela Orquestra Filarmônica na abertura da temporada 2020, que comemora os cinco anos da Sala Minas Gerais. Ela também havia sido executada na inauguração do espaço.

“É uma sinfonia grandiosa, de impacto, em que você mostra a plenitude da sala, porque a sua capacidade acústica fica evidente”, explica Fabio Mechetti, regente da orquestra, que, no concerto, terá mais de cem músicos, além das participações da soprano Camila Titinger, da mezzo-soprano Luisa Francesconi e dos coros da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e do Coral Lírico de Minas Gerais, que também estiveram presentes na noite de inauguração da sala, em 2015.

O maestro ainda destaca o “caráter simbólico” da peça de Mahler. “É uma obra que usa o tema da ressurreição não apenas do ponto de vista religioso, mas também espiritual. Ela passou a ser conhecida como um emblema da esperança, do positivismo e da passagem do pessimismo para o otimismo. É o que queremos repercutir, através da música, na sociedade”, completa Mechetti.

A composição será gravada pela orquestra, dando continuidade a um projeto iniciado em 2017, que já registrou as sinfonias de números 1, 3, 5 e 6 do compositor de origem judaica nascido na Boêmia, atualmente pertencente à República Theca. “É um processo importante e audacioso, que exige concentração total, o que, do ponto de vista técnico, ajuda a melhorar o apuro artístico da orquestra”, destaca Mechetti.

Sucesso em números

Logo que assumiu o mandato como governador, Romeu Zema teve que lidar com uma polêmica declaração dada durante a campanha eleitoral. Eleito, ele se desculpou pessoalmente com o maestro por ter chamado o prédio que abriga a Filarmônica de “monstruosidade da elite”.

“Foi tudo fruto de desconhecimento. Depois de conhecer a Sala Minas Gerais, o governador compreendeu que ela é uma peça fundamental para fortalecer a cultura, o turismo e a economia. Nós temos dados que comprovam isso, pois, além dos concertos, a sala gera um impacto nos hotéis e restaurantes que estão ao seu redor”, diz Mechetti. “A Sala Minas Gerais é uma das melhores salas de concerto da América Latina, ela colocou o Estado em um novo patamar cultural”, complementa.

Segundo o maestro, existe “um trabalho contínuo para democratizar o acesso aos concertos”. Os números atestam a fala. Entre 2008 e 2019, mais de 1 milhão de pessoas compareceram a espetáculos da Filarmônica, que habitualmente se apresenta em praças e locais abertos ao público.

Em 2020, a orquestra celebrou o aumento de suas assinaturas e novos patrocínios, o que vai possibilitar, ao longo do ano, “turnês especiais em, pelo menos, oito cidades do interior de Minas Gerais, sempre com entrada gratuita”, conta Mechetti. Outra intenção é investir em mais concertos didáticos, em parceria com a rede pública de educação.

“A despeito das dificuldades econômicas que todo o país atravessa, fazemos o que é possível, dentro dos nossos recursos”, informa o maestro. Ainda neste ano, a Filarmônica homenageia os 250 anos de nascimento de Beethoven.

Serviço:

Concertos da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, nesta quinta (13) e sexta (14), às 20h30, na Sala Minas Gerais (rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto, Belo Horizonte/MG). De R$ 50 a R$ 150.

Fonte: O Tempo

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